"Saturno - O símbolo e o mito
Eu fiz alguns comentários com letra azul.
A COESÃO DO MUNDO VISÍVEL
Saturno destrona o pai, Urano, arrancando-o ao abraço
eterno que o liga a seu par. Obriga-o, assim, a derramar sua semente na
multiplicidade potencial das formas. Mas não pode conservar um poder usurpado:
as forças titânicas uranianas liberadas se revoltam contra esse novo mestre que
quer encerrá-las nos limites do Tempo.
E seu filho, Júpiter, que saberá fazer delas aliadas e
Saturno entra na sombra, que é seu domínio, deus relegado por seus seis filhos
para o segundo plano de um panteão que rejeita o condenado para melhor levar a
termo sua obra procriadora.
Nós todos somos da sua linhagem, mesmo que a malícia
do Senhor dos Anéis seja nos fazer crer o .... contrário. Ele é aquele que nega a Unidade.
Guardamos graves resquícios disso.
O Egito, sob o nome de Set, o crocodilo do Nilo, irmão
de Osíris, não o condena. Deus noturno, Set trava o combate perpétuo da sombra
contra a luz, mas sua ação fecundante é divinizada nos limites da Terra.
Ele representa a necessidade de onde procedeu a
criação, por um desejo interno irresistível. Este universo não é estável e
depende da vontade de cada criatura de mantê-lo. Isso só é possível através dos
ritos particulares, constantemente renovados. Cabe aos humanos dar-lhe uma
duração.
A lenda de Set fala, portanto, de uma constante
representação do mundo pelo mental, sem o qual a ilusão de sua solidez e de sua
perenidade voaria em pedaços. De certa forma, uma vez saído do vazio do Caos
inicial, Atoum, o Criador, confiou a suas criaturas a responsabilidade de
manter sua obra. O Todo pertence doravante a todos.
Sem esta conceituação consciente, as formas voltariam
ao caos, à instabilidade fundamental que é sua verdadeira natureza. Para os
egípcios, não existia nenhuma realidade objetiva do mundo fora da idéia que
dele fazemos.
Mas o Vazio (o Sunyata dos hindus) não é o nada.
Preexiste para além do universo das formas. Onipresente e sempre fecundador, o
Espírito se serve desta matéria inicial (a Prakriti) para engendrar uma
representação física e tangível desta energia fundamental. São estas as forças
formativas das quais fala o budismo e que a função saturnina se encarrega de
organizar.
Um dia, o mundo visível foi criado, todas as tradições
concordam com isso, e a energia do mental Saturno — usurpou-o para satisfazer
seus interesses. Nesse mundo, confirmam os celtas, não existe nenhuma direção
precisa: cada um nele descobre a sua e a fixa ao sabor de sua vontade.