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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Cabala - No início era o Verbo...



Cabala - No início era o Verbo...


Quando meditamos sobre o Início,  Teogonia , sobre o Verbo, Infinito... estamos "falando a língua da Mônada, do Espírito Santo, e nosso Pensamento atrai a nossa atmosfera a Luz da Sabedoria da Unidade, da Centelha viva no coração do Sol Espiritual.

A Teogonia da Cabala


1 No início era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus.

2 Ele estava no princípio junto de Deus.

3 Tudo foi feito por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.
5 A luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam. (Evangelho de São João. Prólogo 1-5) 1 

Deus, ao mesmo tempo Primeiro Ser e Não-Ser, não pode definir-se em si mesmo, não pode significar-se, exceto através de sua ação emanadora, o Verbo. Pois em si Deus é Vacuidade, Nada (neant).3

Todavia, é preciso definir estes dois termos. Eles fazem referência ao primeiro véu da Existência Negativa da tradição cabalista, chamado Ain, que pode ser traduzido por Nada (rien), Zero.4

Esse primeiro véu corresponderá ao “retiro” do Divino, que permitirá o surgimento de um Vazio criador.5


Esse Zero absoluto pode ser apreendido através de seu primeiro princípio ativo, o Verbo: “No início ele [o Verbo] estava junto de Deus. Tudo foi feito por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida...” (João 1:1-4).

Conforme enunciado nesta passagem, o Verbo corresponde ao segundo véu da Existência Negativa, chamado Ain Sof normalmente traduzido por Infinito ou Ilimitado, que é associado a um desejo de vida e ser.

Esse desejo de vida pede, por sua vez, um atributo ou objeto de emanação que lhe permita revestir-se e tomar-se reconhecível para si mesmo: “e a vida era a luz dos homens”, diz o Prólogo do Evangelho de São João na sequência.

Essa Luz faz referência ao terceiro véu da Existência Negativa, Ain Sof Aur que significa precisamente Luz.

 Porém, é preciso destacar que como trata-se de um campo incriado — que precede a manifestação Divina —, a palavra luz refere-se, aqui, a uma pura Luz original, não-dual, de certo modo potencial. Essa Luz original é a primeira resistência à primeira atividade do Verbo, de maneira que ela ao mesmo tempo vela e revela a Divindade. (Fig. 1)

FIGURA 1





Retomemos então, do início, o processo da manifestação Divina.
O Nada é emanador de um infinito de espaço.

Nesse infinito de espaço, não há um ponto particular original a ser considerado — como postula a teoria clássica do big-bang —, mas uma infinidade de pontos que, no ato criador, equivalem-se uns aos outros.

Emanado, o infinito de espaço torna-se, por sua vez, por assimetria potencial, emanador de um “menos infinito” de tempo. (Fig. 2)

FIGURA 2
                             Três véus da Existência Negativa
                                 — Mundo não-manifestado —



Essa Luz não-dual potencialmente temporalizável, emanada do Verbo, torna-se, por sua vez, emanadora da manifestação:
 “A Luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam” (João 1:5).

Os três véus da Existência Negativa encontrarão sua contraface em três véus ou dobras da Existência Positiva, correspondentes a três Mundos ou três diferentes Níveis de Realidade.7

 Porém, antes da criação destes três Níveis ou Mundos, o Ternário original [não-manifestado] constituirá uma Tri-Unidade [manifestada], que deve ser considerada como energia potencial e interface entre Deus e sua criação, entre incriado e criado (Fig. 3). 8

FIGURA 3
                                - Tri-unidade manifestada
                        — Interface entre Deus em Si e os três Mundos criados —




Esse primeiro Nível manifestado, mas potencial, é sem dúvida melhor explicitado na Tradição extremo- oriental, isto é, no taoísmo. (Fig. 4)

FIGURA 4
                                      Tri-unidade manifestada
                                  — Conforme a Tradição oriental — 



1. O leitor pode encontrar a íntegra do Prólogo do Evangelho de São João ao final do livro — Apêndice 1. 

O Prólogo do Evangelho de São João desenvolve, numa síntese notável, as etapas que antecedem a manifestação Divina e dão condições para que ela se dê.

Embora na primeira frase do Prólogo o Verbo seja associado ao termo Bereshit (no início),2 pois é dito que “No início era o Verbo” (João 1:1), ele é definido como a segunda etapa desse processo que antecede a criação, pois na seqüência é dito: “e o Verbo estava junto de Deus
e o Verbo era Deus”.

2. Bereshit, “no início” em hebraico, primeira palavra também do livro de Gênesis: Bereshit bara Elohim (No início criou Deus) êth ha shamaim êth há aretz (os céus e a terra)....

3. É evidente que esse Nada associado a Deus não é o vazio nem o não-ser como os representamos com nossa mente dual, mas a absoluta plenitude que está para além do Ser e do Não-Ser, chamada pelo taoísmo de Tao inomeável, em relação ao Tao nomeável (primeiro Ser/Grande Unidade) e, pelo hinduísmo, de Brahman (o Absoluto, o Um sem segundo), em relação a Brahma (o Ser).

4. A Existência Negativa é o processo que se desenvolve no interior da própria Divindade, antes de toda e qualquer manifestação, e se divide em três etapas ou véus que têm analogia com as Três Pessoas divinas da Tradição cristã. A primeira delas, Ain, também pode ser traduzida por Não-Coisa.

5. O retiro do Divino — o tzimtzum (contração ou retração) do célebre rabi lsaac Lúria (séc. XVI) — é um movimento de retração do Absoluto, de entrada Dele em Si mesmo, para permitir o surgimento de um Lugar, de uma região vazia, desprovida da absoluta plenitude de Deus em si; a fim de poder ali criar o outro, isto é, os Mundos e as criaturas, através dos quais possa manifestar-Se e contemplar Sua Sabedoria (Sua ilimitada potencialidade criadora, até então oculta).

Esse retiro do Divino estabelecerá a passagem entre a Existência Negativa (o Absoluto, o Infinito e o Indiferenciado) e a Existência Positiva (o “relativo”, o “finito” e o diferenciado)

6. Aur é Luz em hebraico; portanto, Ain Sof Aur poderia ser traduzido como Luz infinita ou ilimitada...
7. Estes três véus da Existência Positiva corresponderão a três Mundos criados:
Olam ha Briah, isto é, Mundo da Criação, em hebraico (Nível Angélico);
- Olam ha Yetzirah, traduzido por Mundo da Formação (Nível Sutil, Psíquico ou Astral);
- e Olam ha Assiah ou Mundo da Ação (Nível Físico ou Material).

8. Isto é, antes do surgimento dos três véus da Existência Positiva e dos três Mundos criados correspondentes (ou seja, antes da cosmogônia), o Ternário original não-manifestado se refletirá numa Tri-unidad manifestada.

Esta se constituirá no primeiro Mundo manifestado, mas puramente ideal e potencial, chamado Olam há Atziluth, Mundo da Emanação.

Trata-se do Mundo Divino, correspondente ao Mundo das Idéias ou imagens arquetípicas da Tradição pitagórico-platônica.

Pesquisado por Dharmadhannya
Psicoterapeuta Transpessoal

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